Berkeley recebe US$ 800 mil para impulsionar jornalismo psicodélico

Marcelo Leite

Não estivesse completando 64 anos na data, tal notícia soaria como presente de aniversário: a Universidade da Califórnia em Berkeley, epicentro da contracultura nos anos 1960, vai abrir bolsas para jornalistas em início e meio de carreira se especializarem na cobertura de psicodélicos. São mais de US$ 800 mil (R$ 4,2 milhões), ao longo de três anos, para começar o programa.

A doação inicial veio do blogueiro, podcaster e escritor Tim Ferriss, grande incentivador do renascimento para a medicina dessas drogas modificadoras de consciência. Ele já contribuiu para campanhas de fundos de pesquisa para o estudo de MDMA contra estresse pós-traumático da Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos (Maps) e se engajou na controvérsia sobre a voga de pedidos de patentes dos compostos por startups.

A iniciativa integra o Centro Berkeley para Ciência de Psicodélicos lançado há um ano, noutro 14 de setembro, com doação anônima de US$ 1,25 milhão (R$ 6,6 milhões). Entre os fundadores desponta o jornalista Michael Pollan, autor do best seller “Como Mudar sua Mente”, que apresentou a renascença psicodélica para o grande público.

A ideia do programa é que os “fellows” (bolsistas) se aparelhem para produzir reportagens em meios de grande circulação sobre ciência, negócios, políticas públicas e cultura em torno de psicodélicos. Pollan coordenará as atividades com os jovens repórteres, nos moldes de uma bolsa que Berkeley já oferece a jornalistas sobre alimentos e agropecuária (11th Hour).

Cada candidato aprovado poderá receber entre US$ 5.000 e US$ 15.000 de auxílio para produzir reportagem de profundidade em texto ou áudio. Projetos serão analisados duas vezes por ano, e o formulário para a primeira leva de propostas ficará disponível em 1º de dezembro. Saiba mais sobre a bolsa psicodélica de Berkeley aqui.

“Se você quiser moldar o arco da história, jornalismo narrativo e investigativo é uma das melhores ferramentas contemporâneas que temos”, afirmou Ferriss em comunicado da escola de jornalismo de Berkeley.

“A explosão cambriana da medicina psicodélica trouxe com ela tanto promessa incrível quanto complexidade incrível. Jornalistas dedicados são necessários para ajudar a separar fato de ficção, cobrar as pessoas e muito mais. Michael Pollan é a pessoa perfeita para capitanear essa bolsa ambiciosa, e sou muito grato por ele estar envolvido.”

Michael Silver, primeiro diretor do centro psicodélico aberto em Berkeley (Foto: Divulgação/Elena Zhukova)

Diferentemente de outros centros psicodélicos de estudos clínicos, como os de Imperial College, Johns Hopkins, Harvard e o Psychae Institute da Austrália, Berkeley dará prioridade para o estudo de efeitos psicodélicos em pessoas saudáveis, e não portadores de transtornos psiquiátricos e outras patologias. E não só sob o ângulo da psiquiatria, psicologia e neurociência, mas também filosofia, religião, antropologia, arte e até ciência da computação e inteligência artificial.

“Este é um momento de virada na história para a discussão sobre psicodélicos e sob quais circunstâncias devem ser usados”, disse no lançamento Michael Silver, primeiro diretor do centro. “Obviamente esse tem sido um tópico muito polarizador, mas creio que a mente das pessoas está mudando.”

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Boa notícia: a Fósforo Editora está dando 20% de desconto no livro “Psiconautas – Viagens com a Ciência Psicodélica Brasileira” para quem se inscrever no curso sobre drogas modificadoras da consciência no portal Bora Saber, que começa em 28 de setembro. Não perca essa chance de saber um pouco mais sobre o que a pesquisa está (re)descobrindo de benéfico e terapêutico em substâncias poderosas como psilocibina, LSD, ayahuasca, MDMA e ibogaína.