Empresa psicodélica levanta US$ 225 milhões em oferta inicial de ações

Dinheiro grosso começa a fluir de investidores para o campo do renascimento psicodélico, que deixa assim de ser um fenômeno restrito à pesquisa acadêmica. Prova disso foi a IPO (oferta pública de ações) da empresa Atai Life Sciences na sexta-feira (18), que levantou US$ 225 milhões.

Não é pouca coisa. A soma equivale a R$ 1, 125 bilhão, o suficiente para o governo comprar 70 milhões de doses da vacina da AstraZeneca contra Covid-19. No Brasil, contudo, o interesse de investidores por psicodélicos ainda engatinha, apesar de significativa produção acadêmica de cientistas psicodélicos brasileiros.

As ações da Atai partiram de um preço-alvo de US$ 15 e chegaram a valer US$ 22,91, alta de mais de 50%. No fechamento estavam cotadas a US$ 19,45, quase 30% acima da oferta inicial. Com esse resultado, o valor de mercado da companhia deve ultrapassar US$ 2,3 bilhões.

A Atai é em realidade uma holding controladora de firmas envolvidas no desenvolvimento de dez drogas e seis tecnologias de apoio (como compostos químicos e protocolos terapêuticos). Entre as controladas está Viridia Life Sciences, que pesquisa medicamento para depressão resistente, VLS-01, a partir da dimetiltriptamina (DMT), uma das substâncias psicoativas da ayahuasca.

Outra empresa em seu portfólio é a EmpathBio, que desenvolve uma variante do MDMA batizada de EMP-01, para uso no tratamento do transtorno de estresse pós-traumático. Nesses e noutros casos, a Atai tem pedidos de patentes em andamento.

O modelo de negócios da Atai segue a via usual da grande indústria farmacêutica, dependente de regulamentação por agências com o FDA e Anvisa e de propriedade intelectual. A patente, neste caso, se torna ainda mais crucial para a rentabilidade, uma vez que psicodélicos se encaminham para emprego esporádico, como apoio de psicoterapia, e não como remédios de uso contínuo ao estilo de antidepressivos atuais, da fluoxetina ao escitalopram.

Com todo o entusiasmo de investidores, podem surgir pedras no caminho de empresas como Atai Life Sciences e Compass Pathways. Existe um movimento contra a propriedade intelectual buscada por elas, uma vez que os compostos psicodélicos em mira são de uso corrente há décadas, se não milênios, e já são objeto de vários ensaios clínicos desde a virada do século.

Não haveria, portanto, inovação importante nem a não obviedade exigida para obter patentes. Um empresário insuspeito de anticapitalismo, Bill Linton, dono da empresa Promega e fundador do Instituto Usona (concorrente da Compass em testes clínicos de psilocibina para depressão), patrocina um repositório de informações de domínio público sobre psicodélicos para municiar analistas de patentes no exame desses pedidos questionáveis, Porta Sophia.

A Atai está sediada na Alemanha e tem como principal investidor Christian Angermayer (na companhia de Peter Thiel, fundador da PayPal). Angermayer se envolveu recentemente em debate acalorado com o blogueiro pró-psicodélicos Tim Ferriss sobre a questão de propriedade de intelectual no setor.