Investidor agressivo combate danos cerebrais com golpes de psicodélicos
A disputa na arena empresarial dos psicodélicos anda acirrada. Quase todo dia competidores anunciam novas aquisições e investimentos, e a Wesana Health –criada há pouco mais de um mês– tem chamado atenção pela chegada de dois pesos pesados ao time.
Para traçar a estratégia de luta, entra em ação o experiente James Fadiman, autor do clássico psiconáutico “O Guia do Explorador Psicodélico – Jornadas Seguras, Terapêuticas e Sagradas” (aqui, em inglês; há também edição em espanhol, aqui). Na quinta-feira (27) a empresa noticiou que ele integrará seu comitê consultivo científico.
Fadiman faz estudos sobre psicodélicos desde os anos 1960, quando drogas como LSD, MDMA e psilocibina não eram proibidas (isso ocorreria nos anos 1970-80). O pesquisador e escritor defende que sejam usadas para fins espirituais (altas doses), propósitos terapêuticos (doses moderadas) e solução de problemas (microdoses). É muito lido no Vale do Silício e em Wall Street.
A Wesana tem como fundador e principal executivo Daniel Carcillo, um jogador de hóquei campeão pelos Chicago Blackhawks. Após 12 anos de carreira profissional e muitas pancadas na cabeça, foi diagnosticado aos 30 anos, em 2015, com síndrome pós-concussional.
Em sua página o ex-atleta Carcillo arrola uma lista chocante de sintomas: sensibilidade à luz; fala arrastada; problemas de memória, concentração e controle de impulsos; dores e pressão interna na cabeça; insônia; perda de apetite; confusão mental; ansiedade; depressão. Chegou a entreter pensamentos suicidas.
Essa modalidade de dano cerebral traumático aparece muito em boxeadores e jogadores de futebol americano, também. Depois de peregrinar por vários especialistas, Carcillo voltou-se a tratamentos inovadores e fundou a Wesana para fomentar pesquisas de terapias alternativas contra o mal que o aflige –entre elas a psilocibina, substância psicoativa dos cogumelos ditos “mágicos” (do gênero Psilocybe).
Sua empresa saltou às manchetes na semana passada porque o lutador Mike Tyson não só investiu na Wesana, listada na Bolsa canadense, como fez a ponte entre ela e o Conselho Mundial de Boxe (WBC, em inglês). A entidade vai partilhar com a companhia seu acervo sobre danos cerebrais reunido desde a década de 1970.
O lutador, também diagnosticado com a condição cerebral, já tinha aparecido no noticiário após hilariante cena de talkshow em que Tyson engoliu 4g de cogumelos Psilocybe secos. A repercussão foi imediata, porém restrita mais à cena psicodélica, e lhe garantiu presença no 56º lugar de uma controversa lista das cem pessoas mais influentes da área.
Desta vez, teve sucesso instantâneo na imprensa esportiva a afirmação de Tyson de que os psicodélicos salvaram sua vida: “Todos achavam que eu estava louco, mordi a orelha de um cara”, disse à Reuters, referindo-se à luta com Evander Holyfield em 1997. “Fiz todas aquelas coisas, e assim que me apresentaram os cogumelos… minha vida inteira mudou.”
Nos planos de Carcillo está aprofundar o conhecimento sobre a síndrome e recrutar boxeadores como voluntários para o teste clínico de sua formulação de psilocibina em desenvolvimento, Sana0013. Para isso, fez duas outras contratações arrojadas, garantindo os passes de Mark Wingertzahn, que já atuou nos times das farmacêuticas GSK e Pfizer, e do médico Stephan Bart, craque com mais de 400 ensaios clínicos.
A Wesana por ora não enfrenta concorrência direta de outros testes clínicos já em andamento com psilocibina, porque esses têm por alvo a depressão. Vai precisar de toda a força de Tyson e toda a ginga de Muhammad Ali, contudo, para escapar dos avanços da britânica Compass Pathways, se esta desafiar a Sana0013 com as três patentes já obtidas para sua fórmula de psilocibina COMP360.