Lista dos mais influentes em psicodélicos tem só duas brasileiras

ADENDO: depois de publicada a nota, veio ao meu conhecimento que Adriana Kertzer, 97a. da lista, advogada atuante no Plant Medicine Law Group dos EUA, nasceu em São Paulo. São, portanto DUAS brasileiras no ranking. Texto modificado para incluir essa informação.

Um ranking das cem personalidades com maior influência no campo psicodélico está dando o que falar. Toda lista de bambambãs se sujeita a controvérsia, mas essa caprichou em ignorar a diversidade hoje esperada de qualquer elenco, sob pena de perpetuar vieses que mantêm em posição subalterna quem deveria brilhar tanto ou mais que homens brancos ricos, famosos e poderosos.

A lista dos psiconautas mais influentes foi montada pelo serviço de informações Psychedelic Invest, dando peso sobretudo para audiência em redes sociais. Os organizadores do ranking se penitenciaram pela falta de diversidades, que privilegiou machos caucasianos em todas as 20 primeiras colocações.

Contei apenas 17 mulheres na relação de 100 nomes, entre elas DUAS únicas pessoas naturais do Brasil: Beatriz Caiuby Labate, antropóloga estudiosa de ayahuasca conhecida como Bia Labate, e a advogada Adriana Kertzer.

A antropóloga brasileira Bia Labate  (Divulgação)

Obviamente negros também só se veem dois: o especialista em abuso de drogas Carl Hart e o boxeador Mike Tyson, que em dezembro devorou 4g de cogumelos psicodélicos Psilocybe durante entrevista.

O destaque para Labate é justo. Ela já organizou, editou e escreveu duas dezenas de livros sobre ayahuasca, peiote, povos tradicionais que usam psicodélicos e sua redescoberta pela neurociência e pela psiquiatria.

O último deles, “Ayahuasca Healing and Science” (cura e ciência da ayahuasca, minha tradução para o título), foi editado com Clancy Cavnar, companheira com que administra o Chacruna Institute for Psychedelic Plant Medicines, em São Francisco (EUA).

(Reprodução)

Labate também trabalha como especialista em educação pública e cultura da Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos (Maps, em inglês), cujo fundador, Rick Doblin, é o terceiro do ranking. (Possível conflito de interesses para o leitor conhecer e ponderar: já publiquei quatro artigos pagos na página Chacruna e tenho um no prelo do MAPS Bulletin, todos a convite de Labate.)

O volume contém ensaios de vários pesquisadores do Brasil, terceiro país com mais artigos científicos de impacto. O prefácio é do neurocientista Sidarta Ribeiro (40,4 mil seguidores), e o livro tem autores brasileiros como o psiquiatra Luís Fernando Tófoli (30,6 mil) e o físico Dráulio de Araújo, pesquisador principal do estudo sobre ayahuasca e depressão que aparece em sexto lugar naquele ranking dos artigos com mais citações (38/ano).

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