Efeito emocional de cogumelo dura 7 dias; novas conexões mentais, 1 mês
A substância psicoativa psilocibina, originária de cogumelos Psilocybe, tem demonstrado bom potencial antidepressivo. A origem desse efeito ainda é mal conhecida, mas estudo da Universidade Johns Hopkins (JHU), nos EUA, mostrou que emoções positivas perduram por uma semana e que 30 dias depois o padrão de conexões cerebrais ainda se mostrava enriquecido.
Passados 7 ou 30 dias, primeiro e segundo pontos de coleta de dados da pesquisa, já não há mais vestígios da psilocibina no corpo, pois o composto é metabolizado rapidamente. Uma viagem com cogumelos “mágicos” dura cerca de 6 horas.
O fato de alterações psíquicas persistirem por até um mês ajuda a explicar os efeitos positivos sobre transtornos mentais verificados experimentalmente após uma única dose. A psilocibina se encontra em testes preliminares para tratar não só depressão e ansiedade, pelo grupo de Roland Griffiths na JHU, mas também dependência de álcool e tabaco.
Trata-se de uma substância de uso proibido, mas estudos autorizados alçaram-na à condição de segunda droga controlada mais próxima de se tornar medicamento psiquiátrico (a primeira é MDMA, base do ecstasy). Até que a agência de fármacos FDA e congêneres como a Anvisa as aprovem, o que pode acontecer em menos de dois anos, ninguém vai conseguir tratamento legal com elas fora de instituições de pesquisa.
Apesar da proibição, os cogumelos Psilocybe são objeto de uso religioso há séculos, por exemplo no México; há décadas, por hippies; e, mais recentemente, por nerds no Vale do Silício e operadores no mercado de capitais. Não é difícil encontrar esses fungos na internet ou num pasto bovino após a chuva, mas identificá-los nada tem de trivial.
Griffiths e seu grupo pioneiro em pesquisa psicodélica usaram uma dose alta de psilocibina nesse estudo, 25 mg por 70 kg de peso dos 12 pessoas saudáveis, sem transtornos mentais. Uma amostra pequena, decerto, mas que rendeu resultados dignos de nota.
Os voluntários foram submetidos a várias baterias de testes (questionários padronizados) para avaliar quantitativamente seu estado mental, como emoções positivas e negativas. Contrariamente ao que acontece com pessoas cronicamente deprimidas, constataram aumento das primeiras e redução das últimas.
Esse padrão benigno, entretanto, se manifestou somente no prazo de uma semana. Nos questionários respondidos depois de 30 dias, os participantes retornaram aos escores medidos antes da dose de psilocibina.
Os efeitos promissores após um mês foram observados por meio de ressonância magnética funcional (fMRI, abreviação em inglês pela qual é mais conhecida na neurociência). As imagens dinâmicas de atividade cerebral mediram as reações dos voluntários diante de estímulos emocionais, além de registrar quais áreas do cérebro estavam interagindo com quais outras.
O time da JHU constatou o surgimento de novos padrões de comunicação entre regiões cerebrais, o que pressupões novas conexões entre neurônios. Esse aumento da neuroplasticidade explicaria o benefício para quem sofre de transtornos mentais caracterizados pela rigidez e ruminação de ideias ou sentimentos negativos.
Em termos metafóricos, seria o caso de comparar a mente deprimida, por exemplo, com um computador que repete as mesmas falhas ao rodar programas muito antigos. A pessoa fica presa num ciclo vicioso de pensamentos ruins.
A psilocibina funcionaria, então, como um reset. Nessa analogia, a droga permitiria a entrada em linha de novos circuitos neuronais e, com sorte, a abertura de uma janela psíquica para vislumbrar novas maneiras de processar as dores e os males da alma.